Tópicos Abordados V
Todos nós já passamos por isso. Queremos abandonar um comportamento, mas acabamos tropeçando tantas vezes que desistimos de vez.
Criar um hábito novo apresenta uma série de desafios. Alguns deles são semelhantes aos obstáculos enfrentados ao abandonar um velho.
Por outro lado, algumas das situações serão distintas. Saber se preparar para os dois casos é essencial se quiser aumentar a chance de sucesso.
Assim, se prepare para entender melhor porque seu mal hábito existe e como se livrar dele.
Como funciona um hábito
Seu corpo precisa de energia para sobreviver. Seu organismo passa 100% do tempo queimando combustível originados da sua alimentação e respiração.
Todos os seres vivos sabem que alimentos podem ser escassos. Desta forma, cada indivíduo procura economizar o máximo de energia que puder.
Como é uma forma de economizar energia? Minimizando o esforço para se realizar uma ação e maximizando o resultado. Você faz isso através dos hábitos.
Cada situação que surge no seu dia, que vamos chamar de gatilho, seu cérebro seleciona entre várias opções uma resposta que chamaremos de rotina.
Após o resultado, sua mente vai mensurar se deu certo baseada em seu grau de satisfação. Esse sentimento mensura o tamanho da recompensa percebida quando aquela rotina é aplicada.
Este é o ciclo do hábito: gatilho, rotina, recompensa. Substitua a palavra recompensa por prazer intenso e você vai entender por que está absorvido em tantos comportamentos que quer evitar.
Nossa vida está repleta de serviços e produtos que sabem apertar nossos botões. Exigem pouco esforço e entregam muito prazer ao nosso cérebro. A disciplina necessária para se escapar destas armadilhas é enorme.
Tenha claro o motivo de estar fazendo isso
Essa é a primeira fase que precisamos realizar antes de mudar qualquer hábito. Invista o tempo necessário aqui antes de começar qualquer outra coisa.
Precisamos sentar e escrever todo os motivos que estão te fazendo querer mudar. Não tem a ver com objetivos e metas específicos e associados a alguma vaidade.
Será necessário ligar os pontos de forma profunda. Nossa identidade e valores. Este hábito desrespeita seus valores pessoais em qual grau?
Ao se abandonar este comportamento nocivo, quais possibilidades se abrirão em sua frente e que farão você ter mais orgulho do que está fazendo?
O preço da mudança é muito caro. Nenhuma motivação inicial irá se sustentar se você não compreender o motivo de estar fazendo isso. Será necessária disciplina.
As dificuldades vão bater e seu poder de julgamento vai beirar o zero. Na verdade, quanto mais poderosa sua mente, maior a capacidade de criar narrativas que justifiquem você desistir de tudo.
Assim, registre seus motivos e os mantenha com você. É capaz que eles precisarão ser lidos todos os dias até que as coisas entrem no automático e você consiga recitar tudo de cabeça.
Se afaste de todo o mal
Você nunca vai saber o dia que estará mais propicio a tropeçar. Algumas pessoas vão te dizer que é no começo da mudança, afinal acabou de começar abandonar o hábito.
Outros vão te dizer que no começo é mais fácil, pois a motivação é alta. Será quando já estiver baixando a guarda e quando um evento difícil afetar sua moral que você vai vacilar.
A verdade é uma só: ninguém sabe o dia que será mais difícil. Assim, é necessário se planejar para que não seja tão simples retornar ao velho hábito.
Muitas pessoas cometem o erro de confiar na própria força de vontade e dizem que estão se planejando. Por que você iria querer aumentar a chance de dar errado?
Avalie sua rotina do começo ao fim. Dificulte o acesso a tudo que possa te fazer recorrer ao hábito que quer abandonar. Não economize esforços.
Você não está tentando mudar
Separe um dia da sua vida onde você vai dar um basta no comportamento. Ele vai servir para dois objetivos principais, criar uma forma de entrar em paz com seu passado e definir sua nova identidade.
Primeiro, para o bem ou para o mal, este comportamento está com você por muito tempo e faz parte da sua história.
Muitas das suas memórias podem estar associadas a ele, pessoas que você conhece, até mesmo seu trabalho. Assim, crie uma última memória e deixe tudo para trás. Aproveite o dia onde fará uma limpeza nos itens que dificultarão você falhar.
A despedida não é abusar do comportamento com a justificativa de ser a última vez.
Ao fim deste ritual de passagem, você vai se apegar aos objetivos que traçou antes e registrar sua nova identidade.
É importante não usar linguagens que já assumem fracasso e é aqui que suas chances de não fazer isso aumentam.
Assim, se quiser parar de fumar, é nesse dia que você vai definir que parou. Quando perguntarem se você quer um cigarro, você não dirá que está tentando parar. Sua resposta será: eu não fumo mais. Esta é sua nova identidade.
Antes de começar, peça ajuda
E hora de engolir o orgulho e ter uma conversa com as pessoas que você convive e confia. Mostre seu plano de eliminar as tentações. Converse sobre a possibilidade de você ficar mais difícil de lidar durante um tempo.
Será melhor se essas pessoas fizerem parte do motivo de se querer mudar. Compartilhe estes motivos ao pedir ajuda, se achar que pode ser o caso.
Exponha seu plano e aponte os momentos que acha que terá mais chances de dar errado. Peça opiniões de como pode tornar seu plano mais forte.
Você não está pedindo para que te vigiem e que essas pessoas sejam os primeiros a apontarem quando você deslizar. Se ainda não sabe lidar com críticas, deixe isso claro.
Talvez até consiga alguém que queira embarcar pois quer abandonar o mesmo mal hábito. Pode ser quem já conseguiu antes ou mesmo tentou e falhou. Todos irão entender melhor suas dificuldades.
A ideia é que eles se identifiquem com os objetivos e te deem suporte. Monte um plano conjunto onde todo mundo saiba que problemas irão surgir, mas que podem ser superados.
Tenha cuidado em não pedir ajuda a quem não está preparado e vai querer apenas virar um guardião do hábito.
Julgue os erros pelo que são
Um dos erros que te impedem de mudar é racionar demais nos momentos pelos motivos errados. Um erro deve ser tratado como um erro.
Primeiro, como deve ser. Você queria fazer uma dieta e acabou exagerando. É hora de pegar a lista com os motivos do porquê está mudando.
Ela precisa de uma revisão por causa do erro você apenas pisou na bola? Tem algo no seu plano que precisa mudar?
Muitas vezes o erro é tão pequeno que nenhuma mudança é necessária. Só não erra quem não tenta. Basta seguir em frente que está tudo certo.
É importante não cair no erro de dobrar a aposta. Muita gente falha e tenta compensar nos dias seguintes. Uma dieta que já está difícil não vai funcionar se ficar ainda mais difícil. Não tenha medo de dar um passo para trás.
O segundo caso, é o comportamento que muita gente comete. Ao contrário de assumir que errou, como qualquer pessoa pode fazer, você diz que é um fracassado. Que nunca vai fazer nada dar certo. As falhas se misturam com quem você é.
Isso é mais uma forma do seu raciocínio querer continuar onde está. Você está com medo das incertezas que vai se meter depois de mudar e é completamente normal.
Entenda isso, volte para a etapa de revisar o plano e siga em frente. Erros são apenas isso, erros.
Não tem a ver com seu caráter ou quem você é. Essas definições têm origem muito mais complicadas do que ter cedido e comido um sorvete ou virado a madrugada no Netflix.
O tédio é um inimigo perigoso
Toda vez que não se sentir nos seus melhores momentos sua chance de ceder à alguma tentação aumenta.
Quando sevocê está estudando e não consegue entender um ponto específico, é o momento que acaba desistindo.
Planejou mal a dieta e a fome apertou? A chance de resolver o problema com um alimento saudável é baixa.
Por outro lado, a maior parte do nosso tempo não estamos no meio de uma dificuldade. Mesmo assim, acabamos repetindo comportamentos que não gostaríamos. E a maior razão é o tédio.
Sabe quem abre a geladeira com a justificativa de que é para pensar? Não é. Na verdade se abre a geladeira para matar o tempo.
Existem milhões de coisas interessantes que você gostaria de fazer, mas a maior parte do tempo não lembra delas.
O segredo é planejar seus dias para que você não deixe o tédio bater. Aprender a registrar o que você quer fazer com seu tempo e não dar sorte para azar. Novamente, listas podem ser um grande aliado.
E se o tédio existe, é porque está sobrando tempo para fazer coisas que te farão se sentir melhor. Que tal criar um hábito diferente?
Uma boa hora de incluir um hábito novo
O poder do hábito é um livro que ficou famoso em 2012. O autor Charles Duhigg defende que só se pode abandonar um hábito velho substituindo por outro. Nossa rotina é mais complicada do que substituir zeros por um, mas não deixa de ser verdade.
Aqui você vai ter que ser extremante cuidadoso. Se fosse fácil criar um hábito novo ele já seria parte da sua rotina. No entanto, abandonar um velho e mal hábito abre janelas de oportunidade importantes.
Na fase de transição, insira devagar um novo hábito com as partes mais prazerosas e fáceis de fazer. Se elas não forem tão fáceis, diminua o tempo que irá ficar exposto a elas.
A ideia é ajudar na construção e reforçar a nova identidade que você está criando. Entendeu o equilíbrio? Ao deixar de fazer algo que você quer abandonar e colocar algo que quer criar, mesmo que não seja fácil, ajuda sua moral.
O aumento da sua satisfação com algo novo pode ser tão grande que a atividade nova talvez nem precisa ser fácil.
O problema é que se sua motivação estiver baixa e você errar na intensidade, o dano pode ser grande. o novo hábito pode virar uma dificuldade. Aí a exposição ao ceder do outro lado e escapar do plano fica maior.
Quer uma dica? Pode não ser um novo hábito. Pode ser um antigo que abandonou e que gostava de fazer: desenhar, escrever, ler, caminhar etc. Qualquer coisa que te fazia bem será um ótimo comportamento a retornar.
Resumo
Abandonar um hábito que está te fazendo mal é uma longa jornada. Cheia de surpresas e que não se deve arriscar entrar nela sozinho ou despreparado.
Cada dia será uma batalha com uma vitória a ser comemorada. Saber compreender que tropeços virão e que eles não definem seu caráter é essencial para manter o fôlego e continuar.
No final, certamente que valerá a pena e os aprendizados do caminho podem significar o começo de uma grande jornada de mudança.
