Tópicos Abordados V
Ao ler minhas experiências, sempre considere que o que funcionou para mim pode não funcionar para você ou te fazer mal. Somos todos diferentes. Aprenda a escutar seu corpo e responder a isso, esse é o objetivo.
Em meados de 2018 estava lendo o livro Ferramentas dos Titãs e me deparei com a entrevista de um holandês chamado Wim Hof, com o codinome homem de gelo.
Com dezenas de recordes mundiais de resistência ao frio e força, o sujeito subiu o Everest apenas usando um short curto e defende que qualquer um pode se tornar igual a ele.
A verdade é que o livro tem tanta gente interessante, que o entrevistado passou batido. Apenas quando indiquei a leitura ao meu irmão que ele disse ter tentado a respiração que o Wim ensina e gostado.
Perguntou o que eu tinha achado, pois jurava que eu também tinha tentando, e eu nem lembrava da entrevista. Ali começou uma história que já dura quase dois anos.
Quem é Wim Hof?
O Wim é um holandês, nascido em 20 de abril de 1959, também conhecido como homem de gelo. Nome dado pela sua enorme capacidade de resistência ao frio. Pai de seis filhos, quatro com sua primeira esposa.
Algumas de suas conquistas são: nadar por debaixo do gelo, correr maratonas descalço sobre o gelo, correr no deserto do Saara sem beber água, ficar submerso no gelo por quase duas horas várias vezes e por aí vai. Já foi ao monte Everest e Kilimanjaro usando apenas shorts e tênis. Isso mesmo, sem camisa.
Um dos fatos marcantes da sua vida foi o suicídio da sua primeira esposa em 1995. Então com quatro filhos e sem saber o que fazer, Wim diz que foi no frio que ele buscou forças.
Ele explica que o evento o tornou quem ele é hoje. Mais tarde, com a ajuda do seu filho mais velho, Enahm, ele acaba criando o método Wim Hof e disseminando mundo afora.
O método
Em uma breve explicação, o método consiste em três pilares. O gelo, a respiração e compromisso. Sendo os dois primeiros bem práticos e o terceiro mais de motivação.
Sobre o frio, uma exposição controlada de cerca de 2 minutos abaixo de 15°C ele já defende ser o suficiente.
A respiração consiste em ciclos de hiperventilação, período sem respirar seguido de uma respiração profunda e represada por 10 a 15 segundos. Muita gente tem visões logo na primeira tentativa, choram, ficam extremamente felizes e por aí vai.
Você pode se surpreender com o poder de respirar. Alguns acabam vivendo algo transformador de primeira e se apaixonam pelo método em um instante. O compromisso tem a ver com disciplina e confiar que o impossível pode ser possível.
Se tiver interesse, leia outro texto que explora os detalhes do Método Wim Hof.
O primeiro contato
Minha primeira experiência foi com a respiração. Qualquer um pode fazer do sofá. Basta procurar um vídeo no Youtube e seguir as instruções. Respirar é de graça.
O que fiz foi procurar um vídeo do Wim guiando uma outra pessoa no Youtube e seguir as instruções. O vídeo tinha 20min.
Respirei como nunca. Senti minha pele formigar e talvez algumas sensações de dormência. Minha cabeça ficou leve, mas não fiquei tonto ou ameacei desmaiar.
Estava deitado no sofá. Eu não tive visões ou sensações emocionais muito fortes na primeira tentativa. Por outro lado, fiquei muito surpreso com a capacidade de ficar sem respirar por tanto tempo.
Normalmente não segurava 20 segundos sem respirar e com muito desconforto. Logo na largada quebrei a marca de 1 minuto de forma confortável e relaxante. No último ciclo eu cheguei perto dos 2min.
O teste de força com flexões de braço, antes e depois, também me deixou impressionado. A capacidade aumentou em 50%, enquanto eu não respirava, com facilidade.
Por fim, a sensação de relaxamento posterior foi bastante agradável e eu percebi que tinha acabado de experimentar algo poderoso. Fui correndo ler mais e aprender sobre o método.
Fazendo amizade com o frio
Meu segundo contato com a técnica foi apenas começar a tomar banho gelado, que virou regra.
Só que em casa eu sabia que a temperatura da água não batia os 15°C com o chuveiro desligado. Na maior parte do Brasil é difícil conseguir baixas temperaturas assim, mesmo no inverno.
Assim, comecei a ser mais criativo. Primeiro, congelava água em quatro recipientes de 1 litro. Colocava em um balde e começava o banho jogando o balde devagar na minha cabeça, tentando bater os 2min. Sim, a cena era engraçada.
A sessão de desespero inicial não era mais um susto, meu coração não acelerava. Era apenas uma sensação a ser experimentada. Quase como um sabor novo de uma comida que você ainda não sabe se gostou ou não.
A diferença é que eu estava gostando cada vez mais. O frio estava virando meu amigo.
Evoluindo a técnica
Com a respiração eu estava evoluindo, pois ficava cada vez mais tempo sem respirar e as sensações mais intensas tinha começado a aparecer. Eu já conseguia algumas vezes bater os 3min sem respirar.
Aprendi que escanear meu corpo durante a fase de retenção, coisa que aprendi meditando. Fazia com que eu aumentasse o controle sobre minha decisão de voltar a respirar.
Conhecendo outras pessoas que praticam o método, também fui aprendendo outras técnicas de respiração. Misturando nas sessões do método, dependendo do resultado que estava buscando.
Uma lição valiosa é que respirar sozinho é bom, com um grupo é melhor, e com um grupo e uma pessoa experiente guiando é uma experiência incomparável.
Em relação à exposição ao frio, algo que aprendi com o próprio Wim, foi começar a usar o gelo antes do banho para imergir as mãos e pés. Cada par por 10min e depois usava a água fria para começar o banho.
Algumas pessoas fazem a imersão facial. Dizem que o susto e a consequente contração dos músculos do rosto ajudam na circulação da região e pode servir até para manter a aparência mais jovem.
Nunca tentei apenas o rosto, apesar de já ter feito imersão do corpo 100% na água com gelo.
No entanto, só quando achei um instrutor que estava vindo ao Brasil aplicar um curso presencial que fiz o primeiro banho de gelo com o corpo todo. A experiência foi excelente.
Lembro que logo depois viajei à Florianópolis e fui entrar no mar, supostamente gelado. Pareceu brincadeira de criança. Cada experiência foi fazendo com que o frio fosse mais interessante.
Sobre o compromisso, ficar congelando água para tomar banho e respirar todo dia assim que acordar me mostrava que estava no caminho certo.
Minha disciplina, não posso dizer que 100% por causa do método, estava centenas de vezes maior, se comparada com o ano anterior.
Como pratico hoje
Hoje, depois de quase dois anos da primeira vez que tentei a respiração, faço uma sessão assim que acordo.
Tão automático e necessário na minha rotina quanto escovar os dentes. O curioso é que é habitual até do que comer, afinal tem dia que pratico jejum.
Por causa da crise do Coronavírus, também estou meu reunindo online todos os dias com amigos e respiramos juntos, geralmente com um instrutor treinando pelo Wim guiando. Contudo, sei que isso não vai durar por muito tempo.
É uma forma de nos apoiarmos por agora. Abaixo foi a sessão de hoje, que parei de escrever esse texto para participar.
Com o frio, tomo banho gelado, mas como não tenho mais endereço fixo, brincar com gelo mesmo tem sido cada vez mais esporádico.
A sensação as vezes é de saudade. O banho frio tem sido um bom companheiro nas manhas, vale a pena comentar.
Minha rotina matinal quando não estou viajando é acordar, respirar, ir ao banheiro, tomar um banho gelado, escovar os dentes, praticar um exercício mais rápido, fazer um café com uma colher de manteiga.
Esse processo me ajuda a ter foco e partir para alguma atividade que tenho de fazer, mas não acho das mais agradáveis.
Escrever um artigo pesado e que demanda muita pesquisa ou reconstruir o código de alguma parte do site que está dando me dando trabalho, por exemplo. Não é necessário nem pausar para pensar se vou ou não fazer.
Benefícios físicos
Sobre os benefícios físicos, apesar de estudos comprovarem diversos, eu não tenho como identificar um que tenha acontecido comigo e provar que foi o método.
Junto com a técnica eu comecei a me alimentar melhor, fazer mais exercícios, aprender a meditar, praticar jejum intermitente, praticar yoga ou qualquer técnica que eu lesse que pudesse melhorar minha qualidade de vida.
Assim, tenho como apontar pouca coisa específica e prática que o método trouxe. Em uma noite que bebi mais do que devia e acordo indisposto, após a respiração eu sou outra pessoa.
Após o banho frio e a respiração me sinto muito bem e consigo reconhecer isso. Não é algo que posso deixar de reconhecer.
Minha capacidade respiratória também aumentou. Forçar o ar gerou um preparo diferente do que consigo ao correr. Percebi que mesmo ficando um tempo sem fazer atividades aeróbicas, meu desempenho não reduz tanto como antes.
Conclusão
Respirar é de graça, quase ninguém faz direito e só por isso um pedaço do método já deveria fazer parte da vida de todo mundo.
Apesar de identificar poucos benefícios que posso dar o crédito exclusivo ao método, ele me ofereceu muito para eu não reconhecer.
Posso dizer certamente que foi com o método que comecei a perceber que era capaz de muita coisa que minha mente acreditava que eu não era. Somente este benefício já é impagável.
Foi o Wim que me fez perceber que eu acreditava em um monte de coisa que não fazia sentido. Como que ninguém consegue ficar dias sem comer sem sofrer graves consequências. Que isso ainda poderia ser benefício, impossível?
Acreditava que tinha que por um casaco para sair se a temperatura lá fora tivesse diminuído um pouco, senão iria adoecer.
Estava pronto para deixar o conforto acabar com minha capacidade de lidar com adversidades. Eu passei a questionar mais. Comecei a mudar minha vida com a influência dele e até este site é resultado disso.
Por isso tomei a decisão de investir um bom recurso financeiro na oportunidade de conhecer o Wim Hof ao vivo e aprender mais. E quando eu disse que aprendi algo com ele, não foi apenas a distância.
Também não posso deixar de ser grato pela quantidade de pessoas fantásticas que conheci e amigos que criei e que tenho uma conexão muito grande. Obrigado, Wim.
E por causa do meu relato pode ser que você queria ler o artigo que explora como praticar o método Wim Hof. Se você extrair da prática pelo menos um pouco do que eu consegui, creio que já vai valer a pena.